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Projetos de Leitura e Escrita na Alfabetização



PROJETO DE LEITURA E ESCRITA



A aquisição da linguagem é imprescindível para uma participação social ativa, pois através dela o homem comunica-se, compartilha e estabelece visões de mundo, defende seus pontos de vista, além de informar-se e produzir conhecimento. O papel da escola ao ensinar linguagem consiste na responsabilidade de proporcionar aos seus alunos o acesso aos saberes lingüísticos sumamente importantes para o exercício pleno da cidadania, direito essencial de todos. Conforme afirma Kramer:
A linguagem é produzida nas interações sociais, marcada pela diversidade, dialógica; [...] A linguagem é central para o processo de desenvolvimento, crescimento, aprendizagem, construção, conhecimento. Vincula-se à imaginação, à criação, ao diálogo, à expressão de saberes, afetos, valores. É na linguagem que se dá o conhecimento do mundo físico e social e pode se dá o conhecimento do outro, na sua expressiva diversidade, dimensões imprescindíveis em qualquer alternativa de educação que se volte para a humanização. (KRAMER, 2010, p. 115).
Pode-se observar em muitas escolas uma excessiva preocupação com a transmissão da escrita em detrimento da valorização do desenvolvimento da leitura, desconsiderando o fato de que as crianças já chegam à escola com conceitos pré-estabelecidos de mundo e, portanto, já sabem ler o universo que as cerca. A alfabetização é “a ação de alfabetizar, tornar o indivíduo capaz de ler e escrever” (Soares, 1998, p.31). Sabe-se que o processo de leitura independe do processo da escrita, o que desmistifica a concepção percebida nas práticas de certos professores, acreditando que se ensinarem a escrita ao aluno, este conseqüentemente aprenderá a ler.
Nessa perspectiva Soares (1998, p.30) afirma:
Ter-se apropriado da escrita é diferente de ter aprendido a ler e a escrever: aprender a ler e a escrever significa adquirir uma tecnologia, a de codificar em língua escrita e de decodificar a língua escrita; apropriar-se da escrita é tornar a escrita “própria”, ou seja, é assumi-la como sua “propriedade”.


Para que o processo de leitura e escrita torne-se mais produtivo e interessante os uma ótima alternativa para se trabalhar em sala de aula são os projetos assim definidos por Lúcia Helena Alvarez Leite (1996, p.28):

Podemos situar os projetos como uma proposta de intervenção pedagógica que dá à atividade de aprender um sentido novo, onde as necessidades de aprendizagens afloram nas tentativas de se resolver situações problemáticas. Um projeto gera situações de aprendizagens ao mesmo tempo reais e diversificadas. Possibilita, assim, que os educandos, ao decidirem opinarem, debaterem, construam sua autonomia e seu compromisso com o social, formando-se como sujeitos culturais.


Nessa perspectiva, poesia é um recurso fascinante para ser trabalhado desde educação infantil. Através da bela arte da poesia estamos alimentando o hábito da leitura.
O universo da poesia é muito rico e encantador e através desse universo as crianças iniciam-se num maravilhoso mundo da leitura e, esse mundo com certeza será lúdico, prazeroso e bastante agradável.
Sendo assim, o Projeto “Todo Dia Poesia” visou valorizar os encantos das poesias, trabalhando com atividades lúdicas que levem as crianças a pensarem, interpretarem, lerem e escreverem. Mais do que isso houve a pretensão de provocar, através da poesia, o inusitado, o inesperado, a expansão do sentido do que pensavam e queriam dizer as crianças do 1° ano de determinada escola da cidade de Itapetinga no ano de 2009.
O projeto supracitado foi realizado com o objetivo de levar os alunos nele envolvidos, à compreensão do significado das palavras ao entrar em contato com textos poéticos estabelecendo uma relação entre o que é falado e o que está escrito. Foi idealizado um intercâmbio entre casa e escola de forma lúdica e eficaz, o que pôde ser notado na forma como a poesia "A Boneca", de Olavo Bilac foi trabalhada. As crianças puderam escolher uma boneca de pano para ser o mascote da turma e durante o tempo de duração do projeto cada criança teve a oportunidade de levá-la para casa recontando para sua família a poesia.
Outra poesia escolhida pela professora foi "Meu Jardim" de Cyro de Matos o que segundo ela, foi uma experiência marcante.
Em visita ao jardim da escola os alunos puderam identificar a relação entre a escrita e o mundo que os cerca, o que gerou muita alegria e curiosidade nos mesmos. Atrelada à confecção de um painel ilustrando o texto, surgiu a idéia de plantar flores sendo que o girassol foi a flor escolhida pelos alunos.
A partir de então trabalhou-se com a poesia O Girassol, de Vinícius de Morais, e todos os dias as crianças regavam sua plantinha à espera da flor. A sensação de recompensa ao ver os girassóis brotarem foi intensa e as crianças puderam ver que as poesias falavam de algo que pertence à sua realidade, elas aprendiam a ler o mundo.
Como culminância do Projeto, foi realizado um recital de poesias e os pais dos alunos tiveram a oportunidade de observar a evolução dos seus filhos, suas habilidades, competências e criatividade. Como lembrança levaram a tela de girassol pintada pelas crianças e o girassol que elas plantaram.





Segundo a professora que aplicou e idealizou o Projeto, este foi sumamente proveitoso, e através das dez poesias trabalhadas e do empenho em demonstrar que a leitura vai além da decodificação de códigos, as crianças puderam perceber que com criatividade, aprender a ler pode ser extremamente proveitoso. A escrita ficou mais divertida com a confecção de painéis que tinham significado para elas, pois nasceram de uma experiência que as mesmas tiveram. A alegria de ver a família inteirada, por certo trouxe um significado especial, sobretudo para as crianças, que presentearam suas famílias com um recital inesquecível.
Segue abaixo, as poesias trabalhadas no Projeto:







POESIAS


A Boneca - Olavo Bilac
Deixando a bola e a peteca,
Com que inda há pouco brincavam,
Por causa de uma boneca,
Duas meninas brigavam.
Dizia a primeira: "É minha!"
— "É minha!" a outra gritava;
E nenhuma se continha,
Nem a boneca largava.
Quem mais sofria (coitada!)
Era a boneca. Já tinha
Toda a roupa estraçalhada,
E amarrotada a carinha.
Tanto puxaram por ela,
Que a pobre rasgou-se ao meio,
Perdendo a estopa amarela
Que lhe formava o recheio.
E, ao fim de tanta fadiga,
Voltando à bola e à peteca,
Ambas, por causa da briga,
Ficaram sem a boneca...



Leilão de Jardim – Cecília Meireles

Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?

Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?

Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?

(Este é o meu leilão).


O Papagaio – Lourdes Eustáquio Pinto Ribeiro

Falando pelos cotovelos,
Leva a vida o papagaio.
Sabe de tudo o fofoqueiro.
Sempre a matraquear,
Ele só não sabe ainda
Como parar de falar.


O Girassol – Vinícius de Moraes

Sempre que o sol
Pinta de anil
Todo o céu
O girassol
Fica um gentil
Carrossel

Roda, roda, roda
Carrossel
Roda, roda, roda
Rodador
Vai rodando, dando mel
Vai rodando, dando flor

Sempre que o sol
Pinta de anil
Todo o céu
O girassol
Fica um gentil
Carrossel

Roda, roda, roda
Carrossel
Gira, gira, gira

Girassol
Redondinho como o céu
Marelinho como o sol.


O canguruzinho – Maria augusta de Medeiros

Nas suas andanças,
Vai dando pulinhos
Com a bolsa na pança.

O que é que ele alega
Que esconde consigo?
Será que carrega,
Lá dentro, o umbigo?

Se leva um lanchinho,
Uma bola, um boné,
Se guarda um carinho
Um cafuné,
Um segredo até...

Um pulo a Paris,
Um beijo gostoso
Ou mesmo o nariz
De algum curioso

Na bolsa que é dele
E não de um qualquer,
Carrega com ele
O que ele quiser...





Meu papagaio colorido – Luís A. Malta.

Eu fiz um papagaio
De quase todas as cores
Verde, amarelo, azul e branco.

De manhã fui soltá-lo
O sol estava brilhando
O papagaio também.

Caíram gotas de chuva
Um arco-íris surgiu
E meu papagaio coloriu.


Eleição – Cyro de Mattos

Na festa das flores
Elegeram a rosa
A mais charmosa
E a mais querida.
Com o voto do jasmim
Foi à margarida,
Mas o girassol
Que amava a violeta
Não ficou nada prosa

Meu Jardim – Cyro de Mattos

Ontem o girassol
Brilhou de sol a sol.
Hoje a borboleta
Brincou com a violeta
E a operosa abelha
Beijou a rosa vermelha.
Amanhã a magnólia
Vai contar a história
Do reizim Valentim
E seu cavalo bandolim.
Coisas coloridas assim
Acontecem em meu jardim.


Leilão de Jardim – Cecília Meireles

Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?

Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?

Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?

(Este é o meu leilão).




As Borboletas – Vinícius de Moraes

Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas

Borboletas brancas
São alegres e francas.

Borboletas azuis
Gostam muito de luz.

As amarelinhas
São tão bonitinhas!

E as pretas, então...
Oh, que escuridão!

Se eu fosse... – Silvana Pinheiro Taets

Se eu fosse um peixinho
e soubesse nadar
eu brincaria tanto
lá no fundo do mar...

Se eu fosse um peixe-agulha
e soubesse nadar
eu dava um jeitinho
de costurar o mar.

Se eu fosse um peixe-espada
e soubesse nadar
seria um pirata
pra um tesouro encontrar.

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