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Consciência Fonológica e Trabalho de Alfabetização

APRENDENDO A LER E A ESCREVER DESDE O TEMPO DA VOVOZINHA: UMA DISCUSSÃO SOBRE A CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA.

Aislane Rocha, Andréia, Francine, Itamar, Lailane, Taline Sá.

_ Vó, qual a letra que você mais gostou de aprender?
_ A letra “A”.
_ Por quê?
_ Porque o “A
” tem o som da água.
Essa conversa que surgiu informalmente e que, a princípio, parecia ser apenas mais uma conversa entre duas gerações principiou a discussão que aqui será travada.
Ao ver Sofia, uma criança de cinco anos, responder às atividades propostas pela escola, D. Zezé, bisavó dessa criança, comentou:
_ Engraçado, nós aprendíamos a ler e escrever de forma bastante diferente.
O processo de letramento foi todo contado por D. Zezé até que a pergunta acima foi feita. A partir deste momento, não mais interessou aquele processo, mas a emoção que envolvia sua aprendizagem. A narradora da história em questão relatou que para ter acesso à escolarização foi necessário que sua mãe carregasse para uma alfabetizadora do município latas de água na cabeça, posto que nesta época, nossa cidade ainda não contava com um sistema hidráulico em funcionamento.
É verdade que esta água garantiu muito mais do que o processo de letramento/alfabetização de D. Zezé. Ela permitiu que hoje pudéssemos utilizar sua história para tratar de um assunto puramente acadêmico, no que diz respeito ao seu estudo, mas verdadeiramente cotidiano, no que diz respeito à sua construção: a CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA.
Compreende-se por consciência fonológica a habilidade metalinguística de tomada de consciência das características formais da linguagem (fonemas , sílabas), ou seja, é o
conhecimento acerca da estrutura sonora da linguagem e se desenvolve nas crianças ouvintes no contato destas com a linguagem oral de sua comunidade, se aprofundando com a aprendizagem do código alfabético. Assim, acredita-se que a consciência fonológica é um preditor do sucesso das crianças na aprendizagem da leitura e escrita.
Neste ínterim, o processo de aquisição da linguagem perpassa pela consciência fonológica e se dá de forma evolutiva . É comum vermos crianças de 4 ou 5 anos brincando com nomes dos colegas em jogos de rimas como: "Gabriel cara de pastel, Fabiana cara de banana". Mesmo sem saber que isto é uma rima, a brincadeira espontânea das crianças atesta sua capacidade de consciência fonológica. Isto ocorre, porque a capacidade de perceber semelhanças sonoras no início ou no final das palavras permite fazer conexões entre os grafemas e os fonemas que eles representam, ou seja, favorece a generalização destas relações.
Quando D. Zezé compreendeu que o fonema “A” compunha o som que formava a palavra ÁGUA, ela encontrava-se na mais refinada etapa da consciência fonológica – consciência fonêmica - onde é feita a análise dos fonemas que compõe a palavra. A consciência fonêmica é a última etapa a ser adquirida pela criança.
Muitos estudiosos correlacionam a consciência fonológica e a aprendizagem da leitura. Para tanto, há consenso de que a consciência explícita das unidades fonéticas é potencializada pela aprendizagem de um sistema de escrito alfabético e de que a consciência fonológica é um bom preditor do sucesso das crianças na aprendizagem da leitura e da escrita, e o treino deste tipo de competência facilita a aprendizagem da leitura.
Possivelmente o processo de letramento/alfabetização pelo qual passou D. Zezé não teve por base a discussão da Consciência Fonológica que hoje os cursos de Educação Infantil vivenciam, mas o método tradicional, mesmo que equivocadamente, explorou sons, fonemas, letras e permitiu que D. Zezé se emocionasse meio século depois quando voltasse a falar da letra “A” que permeou sua infância e seu aprendizado.


Em linguística, um fonema é a menor unidade sonora (fonética)
de uma língua que estabelece contraste de significado para diferenciar palavras.
Por exemplo, a diferença entre as palavras prato e trato, quando faladas, está
apenas no primeiro fonema: P na primeira e T na segunda.
Entende-se que a
consciência fonológica se dá em três etapas distintas. A primeira delas é a
Consciência de Palavras na qual há a representação da capacidade de segmentar a
frase em palavras e, além disso, perceber a relação entre elas e organizá-las
numa seqüência que dê sentido. Esta habilidade tem influência mais precisa na
produção de textos e não no processo inicial de aquisição de escrita. A segunda
etapa concerne à Consciência de Sílaba que consiste na capacidade de segmentar a
palavras em sílabas. Esta habilidade depende da capacidade de realizar análise e
síntese vocabular. E a última das etapas está ligada diretamente à Consciência
Fonêmica, a mais complexa de todas elas.
Grafema é o nome dado à unidade
fundamental ou mínima de um sistema de escrita, podendo representar um fonema
nas escritas alfabéticas, uma sílaba nas escritas silábicas, ou ainda uma idéia
numa escrita.

Aspectos da Consciência Fonológica


Para saber mais:

CAPOVILLA, A. G. S. Leitura, escrita e consciência fonológica: desenvolvimento, intercorrelação e intervenções.Instituto de Psicologia, Universidade de são Paulo, 1999.

GODOY, D. M. A. O Papel da consciência fonológica no processo de alfabetização. Pró-fono Revista de Atualização científica, Barueri, SP, v.15, n.3, p.241-250, set-dez.2003.

MARTINS, Cláudia Cardoso. A Sensibilidade fonológica e a aprendizagem inicial da leitura e da escrita. V. 76, p. 41, fev.1991.



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